O peso de sempre estar disponível: quando ajudar demais começa a te ferir
Algumas pessoas vivem em um ciclo silencioso e exaustivo: estão sempre prontas para ajudar, disponíveis para resolver o problema de todo mundo, até mesmo quando estão exaustas, doentes ou atravessando crises internas. Elas se acostumaram a ser o porto seguro de todos, menos delas mesmas. E embora esse comportamento pareça generoso (e muitas vezes é), existe uma pergunta que precisa ser feita com coragem: a quem realmente isso está servindo?
Por que nos colocamos sempre nesse lugar de “ajudadores”?
Na escuta clínica, é comum encontrarmos histórias marcadas por ausência de cuidado, invalidação afetiva e a sensação constante de não ser suficiente. A pessoa aprende, ainda na infância, que para ser amada, precisa “merecer” amor, seja sendo boazinha, responsável demais, madura demais ou resolvendo os problemas dos outros. A função de cuidador é ocupada não por escolha, mas como uma tentativa inconsciente de receber aquilo que faltou: reconhecimento, acolhimento, pertencimento.
Esse padrão pode se intensificar na vida adulta. O trabalho, os relacionamentos, as amizades, tudo vira campo de prova para mostrar que a pessoa é indispensável. A escuta psicanalítica enxerga aí uma repetição inconsciente: a tentativa de curar feridas antigas através do cuidado com o outro. O problema é que essa conta chega, e chega alta. Ela vem em forma de cansaço crônico, frustração, somatizações no corpo e relações desequilibradas, em que o outro sempre recebe mais do que dá.
Mas o que eu ganho com isso, afinal?
Pode parecer contraditório, mas sim, há um ganho, inconsciente, nessa posição. A pessoa que ajuda sempre pode sentir-se necessária, importante, amada. O medo de ser rejeitada por dizer “não” ou se priorizar é maior que o desejo de descanso. Existe também uma culpa: “se eu posso ajudar, por que não faria isso?”. Aos poucos, a própria identidade vai se confundindo com o papel de salvadora.
Mas ser tudo para todos é uma ilusão. Não dá para ser cuidadora e esquecer que também se é alguém que precisa ser cuidada.
Como sair desse ciclo sem se indispor com quem amamos?
Sair dessa posição não significa virar as costas para quem você ama, mas sim reorganizar os pesos e medidas da entrega. Aqui vão algumas sugestões terapêuticas para começar esse movimento:
Reconheça que você existe.

Sim, pode parecer óbvio, mas quem vive para o outro esquece da própria existência subjetiva. Reconheça que seus desejos, limites e necessidades importam tanto quanto os dos outros.
Diga “não” com delicadeza.

Um “não” dito com verdade é mais digno do que um “sim” dito por medo. Você pode recusar algo com carinho, sem ser agressiva, apenas firme e honesta.
Se observe com curiosidade, não com culpa.

Quando você aceitar um pedido que não queria aceitar, se pergunte: “por que eu fiz isso de novo?” sem julgamento, apenas observação. O autoconhecimento começa aí.
Cuide de você com a mesma intensidade.

O tempo que você dedica para ajudar pode ser dividido com atividades que te nutrem, uma terapia, um hobby, um tempo de descanso. Você não está se abandonando por isso.
Estabeleça combinados, não promessas.

Ao invés de assumir compromissos por impulso, diga que vai pensar e dar uma resposta depois. Isso te dá tempo de sentir se quer ou não se envolver.
Reescreva o amor.

Amar não é se sacrificar o tempo todo. Amar também é ser honesta com seus limites, porque só quem se respeita pode sustentar vínculos saudáveis e duradouros.
Você não precisa se apagar para que os outros brilhem
Ajudar não é errado. Mas se colocar sempre por último te torna refém de uma dinâmica que, cedo ou tarde, vai te quebrar. Há uma diferença entre ser apoio e ser escora. O apoio fortalece o outro sem se desintegrar. A escora, quando cai, leva tudo junto.
Você tem o direito de existir para além das funções que exerce. Você é mais do que aquilo que oferece aos outros.
Se você se reconhece nesse texto e sente que está difícil sair desse lugar sozinha, talvez seja hora de olhar com mais carinho para sua história.
Agende uma sessão comigo. Vamos juntas reconstruir um caminho de cuidado que inclua você no centro dele. 💛
[Clique aqui para agendar sua escuta]